Do plâncton minúsculo a baleias enormes, tem crescido o registro da ingestão de plástico por animais marinhos de várias espécies.
Com esse tipo de resíduo despejado na água em uma escala que chega a milhões de toneladas por ano, esse consumo ocorre quando o animal, ao se alimentar, engole acidentalmente fragmentos de plástico que estão na área – ou quando esses fragmentos são, literalmente, confundidos com o alimento.E por que isso ocorre?
A explicação de pesquisadores é que o plástico não só parece com comida. Ele também tem cheiro de comida.
ez que estiver na praia”, sugere Erik Zettler, ecologista microbiano do Instituto Real Holandês de Pesquisas Marítimas. “Ele cheira a peixe.”
Zettler observa que isso acontece porque todo plástico no oceano é rapidamente colonizado por uma fina camada de micróbios, normalmente chamada de “plastisfério”.
Essa viscosa camada de vida libera substâncias químicas que fazem o plástico ter cheiro e gosto de alimento para os animais marinhos.
Um composto específico, o metiltiometano ou sulfeto de dimetila (DMS, na sigla em inglês), atua como o estímulo químico que o plástico emite e é conhecido por atrair alguns animais, incluindo peixes.
Mark Browne, que publicou vários artigos sobre os efeitos do lixo plástico no ambiente marinho, disse à BBC que “isso (a substituição desses produtos por alternativas mais ecológicas) poderia ser feito se eles pedissem a ecologistas e engenheiros que trabalhassem juntos para identificar e remover elementos dos produtos que poderiam causar impactos ambientais”.
Mas a extensão do dano não é totalmente conhecida.
“Até agora, o impacto tem sido bastante óbvio em animais maiores, como baleias e pássaros”, diz Syberg.
“Eles podem morrer por asfixia ou de fome, já que a ingestão de plástico bloqueia seu aparelho digestivo.”
Há certas aves, como o albatroz-de-laysan, que já foram muito afetadas pela poluição do plástico.
A equipe do documentário Blue Planet 2, da BBC – que enfoca a vida marinha com foco em descobertas de novas espécies – testemunhou a presença de plástico em substâncias regurgitadas por filhotes de albatroz na longínqua ilha da Geórgia do Sul, no Atlântico Sul.
“Os pais deles devem ter pegado sacolas plásticas no mar, achando que eram comestíveis, e dado a eles como alimento”, disse o produtor executivo James Honeyborne.
“Um filhote morreu ao ter o estômago perfurado por um palito de plástico.”
Erik Zettler, do Instituto Real Holandês de Pesquisas Marítimas, pondera, no entanto, que também há muitos animais que comeram plástico sem consequências consideráveis.
Estudos sobre os impactos “subletais” da ingestão de plástico estão em andamento em alguns laboratórios, assim como pesquisas sobre como isso pode afetar os seres humanos.
Como podemos manter o plástico fora dos oceanos?
Uma enorme operação de limpeza do plástico nos mares foi lançada em 8 de setembro no Oceano Pacífico.
A iniciativa da Ocean Cleanup – fundação que desenvolve tecnologias para extrair a poluição plástica dos oceanos e impedir que mais desses resíduos entrem nas águas – pretende enviar à região um flutuador de 600 metros de comprimento com capacidade para coletar cerca de cinco toneladas de plástico oceânico por mês. Ela promete reduzir o volume da poluição em 90% até 2040.
Mas, diz Syberg, é importante não demonstrar tanto “entusiasmo” com soluções tecnológicas que ajudam, mas não resolvem o problema.
“A limpeza é boa e pode ajudar, especialmente se for concentrada em áreas costeiras com alta emissão de plástico para o oceano”, analisa ele. “No entanto, a solução definitiva para a poluição plástica é impedir que ela aconteça, e não limpá-la depois que está feita. A solução só acontecerá se todos nós mudarmos nossas formas de usar e descartar o plástico.”
Erik Zettler participou de mais de 60 viagens de pesquisa científica coletando dados oceanográficos, incluindo resíduos de plástico encontrados no Pacífico, no Atlântico, no Caribe e no Mediterrâneo.
Ele concorda com Syberg e diz que pode não haver “soluções rápidas” para o problema.
“Vai ser preciso uma combinação de várias coisas – como mudanças no comportamento humano, regulamentações governamentais e participação da indústria – para reduzir o plástico no meio ambiente”, diz.
Via BBC Brasil